Publicado em: 10 de junho de 2019
O Museu Índia Vanuíre em seu nome homenageia uma mulher indígena que teve um papel relevante na história da região. Muito se fala sobre a lenda de Vanuíre, sobre como ela subia em um jequitibá de dez metros de altura, no qual permanecia do nascer do dia ao cair da tarde entoando cânticos de paz. No entanto, poucas são as informações sobre a vida dela.
Inicialmente repercutiu a notícia de que Vanuíre teria vindo do estado do Paraná, trazida no início do século XX pelo Serviço de Proteção aos Índios – SPI. Isso pode ter ocorrido, talvez, por alguma interpretação errônea feita do livro A Pacificação dos Caingangs Paulistas, de Luiz Bueno Horta Barbosa, no trecho:
Não é certa a origem da informação de que ela teria vindo do estado do Paraná, mas para sanar essa dúvida, o Centro de Referência Kaingang e dos Povos Indígenas do Oeste Paulista levantou dados que corroboram com esse dado de que Vanuíre estava, na verdade, no estado de São Paulo quando o SPI teve contato com ela. Uma das fontes integra o acervo arquivístico do Museu Índia Vanuíre: um microfilme que contêm alguns relatórios do SPI e que foram digitalizados pelo equipamento em 2018. Nele foi localizado o relatório Exposição do histórico da aquisição das Térras do P.I. Vanuíre e GRILO das mesmas ultimamente verificado. O relatório, escrito em 1940 por Nicolau Bueno Horta Barbosa, deixa claro que Vanuíre estava aprisionada em Campos Novos do Paranapanema (SP), antes da fundação do serviço de proteção, além de disponibilizar outras informações pertinentes, como a existência de um filho de Vanuíre que se encontrava com ela naquele momento (Fig. 1).
Fig. 1 – Museu índia Vanuíre – Filme 016, 12p Inspetoria de São Paulo: abril de 1940, fl. 4.
Outra fonte utilizada que pode ser consultada é uma fotografia em Campos Novos do Paranapanema, na qual é possível identificar Vanuíre (Fig. 2). Na legenda da imagem aparece a informação de que Vanuíre era uma indígena Kaingang do estado de São Paulo. A fotografia datada de 1911 é anterior a primeira “pacificação” efetuada pelo SPI (1912).
Fig. 2 – Arquivo Nacional. Fotografias Avulsas, BR RJANRIO O2.0.FOT.225.
Esse momento histórico – a primeira “pacificação” – foi um período em que Vanuíre e outros indígenas atuaram como intérpretes trazidos pelo SPI para se comunicarem com os indígenas da região. O Museu Índia Vanuíre atua critica e historicamente e tenta descontruir o romantismo que envolve a pacificação, pois esse reforça a visão negativa dos Kaingang implantada há um século. Essa desconstrução ocorre por meio de uma reflexão feita, inicialmente, com a equipe e, posteriormente, com o público, ao promover diálogos que levam refletir sobre a importância desse momento histórico na narrativa regional.
Referências bibliográficas
HORTA BARBOSA, L. B. A pacificação dos Caingangs Paulistas. Hábitos, costumes e instituições desses índios. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1918.
RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização. A integração das populações indígenas no Brasil moderno. 2a ed. Petrópolis: Vozes, 1977.